Neuromodula

O processo de neuromodulação se caracteriza pela ativação da capacidade do sistema nervoso em se adaptar e se modificar diante de estímulos externos. Atualmente, com o advento de novas tecnologias, técnicas de intervenção não invasivas têm sido utilizadas no tratamento de diversas doenças neuropsiquiátricas, sobretudo nas áreas da reabilitação e transtornos mentais. Através da utilização de bobinas, eletrodos e outros meios, os profissionais podem lançar mão dessas técnicas não-invasivas, realizadas em ambiente ambulatorial, sem a necessidade de anestesia ou de procedimentos cirúrgicos para implantes e marca-passos. São técnicas focais, significando que oprofissional habilitado irá estimular ou inibir uma determinada região do cérebro, induzindo mudanças plásticas nas redes neuronais (alteração em receptores, melhora das sinapses, aumento ou diminuição da excitabilidade).

Dentre as doenças que podem ser tratadas com técnicas de neuromodulação, destaca-se a Depressão Maior, doença que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) acomete mais de mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades e sendo a maior causa de incapacidade em todo o mundo. Nos casos mais graves pode levar ao suicídio, além da incapacidade para vida social e produtiva. Estima-se que cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano, sendo considerada a segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos.

Embora atualmente existam diversas linhas de tratamentos farmacológicos, a heterogeneidade da depressão faz com que aproximadamente 30% das pessoas sejam resistentes as primeiras linhas de tratamento (Voineskos e colaboradores, 2020). A depender da referência, consideramos um paciente como refratário quando não responde a 2 ou 3 tentativas de tratamento comprovadamente eficazes, por tempo e em dose suficientes. Nessa seara, técnicas de neuromodulação como a estimulação magnética transcraniana e estimulação transcraniana por corrente contínua, surgem como alternativas eficazes de tratamento para pacientes refratários, todas essas suportadas por recentes estudos de meta-análise demonstrando segurança e eficácias das técnicas ( Sehatzadeh , 2016, Shiozawa, 2014 e McGirr, 2018). Sempre com base no julgamento clínico, trata-se de uma importante ferramenta no arsenal terapêutico, que permite um passo intermediário antes de se tentar a eletroconvulsoterapia, em casos onde a gravidade permita. Também destaca-se o uso em pacientes com melhora parcial, que mantêm sintomas residuais incômodos, ou para aqueles com efeitos colaterais significativos pelo uso de medicamentos.

Por fim, destacamos que esses tratamentos se mostram eficazes em outras doenças, como é o caso da Estimulação Magnética no tratamento da alucinação auditiva, e bastante promissores como no caso de zumbido (tinnitus), transtornos como pânico, TOC e ansiedade, quadros de migrânia (enxaqueca), ou no caso de reabilitação neurológica, associada a reabilitação motora, espacialmente em pacientes com lesões por hipóxia ou isquemia (“derrames”, paralisia cerebral). Estas técnicas também têm aplicação nos casos de dores crônicas de origem central ou neuropática, bem como na fibromialgia, modulando centralmente a sensibilidade ou percepção da dor, funcionando como adjuvante no tratamento.